sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A CIVILIZAÇÃO MESOPOTÂMICA

Civilizações Antigas: A Civilização Mesopotâmica

Considerada como o “berço da civilização” e denominada de Mesopotâmia (palavra que significa “terra entre rios”), pelos gregos na Antiguidade, a região pertencia ao chamado Crescente Fértil, onde surgiram as primeiras civilizações. 



 A Mesopotâmia localizava-se no Oriente Médio, na região formada pelas bacias dos rios Tigre e Eufrates, que nascem nas montanhas da Armênia e desembocam no Golfo Pérsico, no atual Iraque. Atualmente, os dois rios juntam-se antes da desembocadura, formando o canal de Shatt al-Arab. 


 Ao Norte da Mesopotâmia (Alta Mesopotâmia), ficava a Assíria, região mais árida, e ao sul (Baixa Mesopotâmia), ficava a Caldeia, região mais fértil. As cheias dos rios Tigre e Eufrates, que ocorriam entre junho e julho, provocavam grandes inundações, principalmente no sul. Quando as águas baixavam formavam um lodo que fertilizava o solo, tornavam a área ideal para o cultivo de cereais e frutas e para a criação de gado. O controle das cheias dos rios exigia um eficiente sistema de organização coletiva do trabalho, para a construção de diques de proteção, drenagem e canais de irrigação que levavam a água às regiões mais distantes do Tigre e do Eufrates. 


 Por sua localização na passagem do Mar Mediterrâneo para o Golfo Pérsico, e sendo de fácil acesso para a Europa, a África e a Ásia, a planície mesopotâmica era uma região muito disputada atraindo povos de diversas origens, destacando-se os sumérios, os acádios, os amoritas (antigos babilônios), os assírios e os caldeus (novos babilônios). A história política da Mesopotâmia é marcada por sucessivas invasões, guerras, ascensão e declínio de diversos reinos e impérios. 



Sumérios  
Os sumérios, considerados a mais antiga das grandes civilizações humanas, foram os que inicialmente ocuparam a região, por volta de 3500 a.C. Vindos do planalto do Irã, fixaram-se na Caldeia, sul da Mesopotâmia. Fundaram diversas cidades-estado, como Ur, Uruk, Nippur, Lagash e Eridu, com governos independentes. 



Cada cidade-estado sumeriana possuía um centro político, econômico e religioso, que era o templo. O líder de cada cidade era chamado patesi (sumo-sacerdote), era também chefe militar e governante, auxiliado pela elite aristocrática dos altos funcionários e sacerdotes do templo. As cidades-estado viviam constantemente em guerra entre si pela hegemonia na região. 


 Considerados os inventores da escrita; os sumérios criaram uma escrita para registrar a contabilidade do rico patrimônio dos templos, a quantidade de cereais estocada nos celeiros, o número de cabeças de gado etc. A partir de 3000 a.C., passou a ser utilizada também para registrar textos religiosos, literários e algumas normas jurídicas.  Escreviam em “tábuas” de argila, utilizando um estilete de extremidade triangular deixando sinais em forma de cunha (a escrita cuneiforme). 


 Os sumérios introduziram o uso de rodas nos veículos, o que representou uma revolução na locomoção terrestre. Antes os veículos em forma de trenó, eram puxados por animais, com a utilização da roda o transporte de mercadorias tornou-se mais simples e ágil. Os sumérios estabeleceram um ativo comércio com os povos vizinhos e relações comerciais com a costa Mediterrânea e o vale do rio Indo.

 
 A escrita cuneiforme, as artes, a religião, as técnicas agrícolas e de construção e outros inventos dos sumérios foram aproveitados pelos povos que com eles conviveram. 


 As constantes guerras internas provocaram o enfraquecimento político dos sumérios, facilitando a invasão da Mesopotâmia pelos acádios, povo de origem semita. 


Acádios  
 Os acádios dominaram a Suméria por volta de 2550 a.C. Em 2300 a.C., conquistaram todas as cidades sumérias, liderados pelo rei Sargão I expandiram-se ao norte e dominaram a Mesopotâmia. A rápida vitória e o domínio sobre os sumérios podem ser explicados por duas razões: seu exército era mais ágil e utilizavam o arco e a flecha, instrumento mais rápido e eficiente do que as pesadas lanças e escudos dos sumérios. Estabeleceram a capital de seu império em Acad, daí o nome de civilização acadiana. Fundaram o primeiro império mesopotâmico, que durou até 2150 a.C., quando foram dominados pelos Guti, povo de origem asiática.

 
 Contudo, nova onda de invasões estrangeiras ocorreu na região, desestruturando o Império Acadiano e possibilitando a retomada da hegemonia política dos sumérios. O domínio sumério sobre a área não foi, contudo duradouro, enfraquecidos por rebeliões internas, sofreram invasões de guerreiros nômades. Em 2000 a.C., chegaram os amoritas, outro povo semita, vindo do deserto árabe, que dominaram toda a região, conseguindo fundar o Primeiro Império Babilônico. 


Amoritas   
Os amoritas (antigos babilônios) estabeleceram-se no centro-sul da Mesopotâmia, vencendo seus vizinhos sob a liderança de Hamurabi formaram o Primeiro Império Babilônico, que ia do Golfo Pérsico aos Montes Zagros. 


 Com o governo de Hamurabi, a partir de 1792 a. C., a Babilônia conquista toda a Baixa Mesopotâmia, fundando um vasto império. Depois de séculos de lutas constantes, a Mesopotâmia, no século XVIII a.C., conheceu enfim a unidade. A partir daí, a preocupação de Hamurabi não era mais a expansão territorial e sim a preservação das terras conquistadas, tendo-se preocupado essencialmente com os ataques dos povos vizinhos e com as sublevações dos povos conquistados. O rei Hamurabi administrou seu império durante quase cinquenta anos. 


 A principal realização cultural dos amoritas foi o Código de Hamurabi, o primeiro código escrito que a história registra era baseado no Direito Sumeriano, tendo por finalidade consolidar o poder do Estado e adequar-se ao desenvolvimento da economia mercantil. O Código de Hamurabi que influenciou muitas civilizações era composto por centenas de leis, dentre elas destacava-se a Lei de Talião (olho por olho, dente por dente), estabelecia que as punições fossem idênticas ao delito cometido. A pedra em que estavam gravadas as leis foi encontrada por arqueólogos em 1901 e acha-se guardada no Museu do Louvre, em Paris.  


Algumas leis do Código de Hamurabi:


 -Se um filho bater com as mãos em seu pai, terá suas mãos cortadas. 
 -Se um homem toma uma mulher e não estabeleceu um contrato, então essa mulher não é esposa. 
 -Se um homem cegou o olho de um homem livre, terá o seu olho também furado. Furou-se o olho de um escravo, pagará metade do seu valor. 
 -Se um médico tratou, com faca de metal a ferida de um escravo e lhe causou a morte, ele dará escravo por escravo. 


 Ao mesmo tempo em que o modo de produção asiático atingiu o seu apogeu, desenvolveram-se também os fatores responsáveis pela sua dissolução como, por exemplo, a profissionalização do exército, a hereditariedade dos cargos burocráticos, o desenvolvimento de uma economia mercantil e da escravidão. 


 Por volta de 1800 a.C. o Império Babilônico enfraquecido por problemas internos como a ruína dos camponeses que devido aos altos impostos e ao aumento dos trabalhos reais, eram transformados em escravos, e, portanto, impossibilitados de servirem ao exército. O império foi conquistado primeiro pelos hititas, que causaram grande impacto com a utilização do cavalo para fins militares, depois pelos cassitas e assírios. 


Assírios   
Os assírios eram um povo que antes de 2500 a.C., estabeleceram-se no norte da Mesopotâmia, na região de Assur e Nínive. A partir de 883 a.C., os assírios iniciaram um movimento de expansão territorial. Em virtude da baixa produção agrícola (solos pobres), os assírios dedicaram-se as técnicas de guerra, com um poderoso exército, o primeiro exército organizado do mundo. O segredo de sua eficácia militar era o domínio da tecnologia do ferro na fabricação de armas e ferramentas. A eficiência de seus ataques explica-se também pelos velozes carros de guerra puxados por cavalos. Seu objetivo era saquear os povos conquistados e obrigá-los a pagar tributos. 


 Entre o século VIII e VII a.C., seus domínios ultrapassaram a Mesopotâmia, abrangendo Síria, Fenícia, Palestina e Egito. Os responsáveis por essa expansão foram Sargão II, Senaqueribe e Assurbanipal. Guerreiros extremamente cruéis pilhavam as áreas conquistadas e massacraram sua população, provocando uma série de revoltas durante o reinado de Assurbanipal, que desestabilizaram e enfraqueceram o Império Assírio. Em 612 a.C., os caldeus, aliados aos medos, destruíram as principais cidades assírias. Nabopolassar, comandando caldeus e medos, povos vizinhos, puseram fim ao Império Assírio e inaugurou o Segundo Império Babilônico.

 
Caldeus 
Derrotados os assírios, a Babilônia volta a ser a capital da Mesopotâmia, agora sob domínio dos caldeus, formando um novo império, conhecido como Segundo Império Babilônico ou Neo Babilônico


Com Nabopalassar, os caldeus, aliados dos Medos, consolidaram a independência da Babilônia, mas foi com seu filho Nabucodonosor que o império caldeu atingiu o seu apogeu. Foi durante o seu governo que a Síria e a Palestina foram definitivamente conquistadas. Com violentas investidas militares, o rei Nabucodonosor ocupou Jerusalém em 586 a.C. e escravizou os judeus. Os hebreus foram transportados como escravos para a Babilônia, episódio relatado na Bíblia como o Cativeiro da Babilônia. 


 No reinado de Nabucodonosor a cidade da Babilônia tornou-se o maior centro cultural e comercial de todo o Oriente. Foram construídos palácios, os “Jardins Suspensos da Babilônia”, considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo e a Torre de Babel. O comércio se expandiu com o predomínio do comércio caravaneiro que fazia a rota do Mediterrâneo à índia. 


A morte de Nabucodonosor marcou o início da decadência do império até que, em 539 a.C., tropas persas comandadas pelo imperador Ciro I conquistaram a Babilônia, integrando a região ao seu império. A partir de então, a civilização mesopotâmica foi desaparecendo.


Economia, Sociedade e Política

 
A principal atividade econômica na Mesopotâmia era a agricultura, tal como a do Egito, inseria-se no modo de produção asiático. Sendo a atividade agrícola a principal fonte de subsistência na Mesopotâmia, o poder público controlava de perto a construção de reservatórios de água, canais de irrigação e depósitos de alimentos. Para isso usava a mão de obra das populações camponesas, submetidas ao pagamento de impostos ao rei. 


A produção agrícola era variada, incluindo cevada, trigo, lentilha, linho, tâmaras e outros produtos. Nos campos criavam-se cabras, carneiros e ovelhas para obter carne, leite e lã. Os bois para puxar os arados e para outros serviços. Com o couro bovino faziam correias e sapatos, e com o leite de vaca fabricavam coalhadas e queijos finos. Mais tarde, começaram a domesticar cavalos para montaria e para a guerra. 


Nas cidades, desenvolveram importante atividade artesanal; tecelagem, cerâmica, fabricação de armas, joias, objetos de metal etc. A excelente localização da Mesopotâmia favoreceu o desenvolvimento do comércio. Comerciantes deslocavam-se para outras regiões levando produtos fabricados pelos babilônios. Em consequência, a Babilônia transformou-se num dos mais importantes entrepostos comerciais da Antiguidade.   Até o século VI a.C., a cevada e os metais eram utilizados como padrão de valor nas trocas comerciais. 


 A sociedade na Mesopotâmia, de forma geral dividia-se em dois grupos principais: classe dominante (governantes, sacerdotes, militares e comerciantes) e classe dominada (camponeses, pequenos artesãos e dois tipos de escravos: de guerra e por dívida). Inicialmente, os escravos eram pouco numerosos e a sua existência devia-se principalmente às dívidas. Com o tempo, o costume de transformar os prisioneiros de guerra em escravos fez aumentar o número de cativos na região. A classe dominante controlava a riqueza econômica, as forças política e militar e o saber. 


A Mesopotâmia foi governada por monarquias teocráticas em que o poder estava concentrado nas mãos do soberano. O rei considerado um representante dos deuses na Terra, capaz de traduzir a vontade divina, detinha os poderes religiosos, militares e políticos. 


Aspectos culturais 


 A cultura na Mesopotâmia era muito rica em razão dos diversos povos que habitavam a região. Mas, quase toda a cultura mesopotâmica descendia dos sumérios, incluindo a religião, politeísta e antropomórfica. Sendo politeístas, acreditavam em vários deuses que representavam, como no Egito, fenômenos da natureza. Os deuses mesopotâmicos eram ao mesmo tempo entidades do bem e do mal. Cada cidade tinha seu deus protetor. Entre as principais divindades estavam Marduk, o deus da cidade da Babilônia e do comércio, Shamash, o sol e a justiça; Anu, o céu; Enlil, o ar; Ea, a água; Ishtar, a deusa do amor e da guerra e Tamus, a vegetação. 
                                                                                                               Zigurate 


Os sumérios explicavam a origem do mundo através do mito de Marduk e da lenda do Dilúvio, muito semelhante à história bíblica da Arca de Noé. Segundo suas crenças, o deus Marduk criara o céu e a terra, os astros e o homem. Contudo, um dilúvio ameaçara a existência humana na terra e Marduk ajudou Gilgamesh a sobreviver, advertindo-o do perigo e aconselhando-o a construir uma arca na qual deveria colocar vários animais e os membros de sua família. No governo de Hamurabi, o deus Marduk da Babilônia foi adorado por todo o império.                                                                                           


Os povos mesopotâmicos viam a religião como meio de obter recompensas terrenas, imediatas, não acreditando na vida após a morte. Os rituais religiosos, comandados pelos sacerdotes, faziam do templo (zigurate) o centro de toda a religiosidade. Esses templos, às vezes, abrigavam também o celeiro e as oficinas. Neles se conhecia o estoque e se definia o critério de distribuição dos excedentes agrícolas tomados aos camponeses.

 
Os caldeus não acreditavam em vida após a morte, porém acreditavam em demônios, espíritos, magia, adivinhação e na influência dos astros sobre a vida humana, criaram a astrologia. Os astrólogos faziam horóscopos para interpretar a influência dos astros na vida humana. 


Na arquitetura mesopotâmica destacava-se a construção de templos e palácios, como os zigurates. Pintavam e esculpiam sobre temas religiosos, esportivos e militares. Inventados pelos sumérios, os zigurates tornaram-se sua marca arquitetônica registrada: eram imensos templos com várias torres retangulares, igualando-se em grandiosidade aos palácios construídos pelos assírios e caldeus. Mas o uso de arcos também deixou sua marca na arquitetura desse povo. Como artistas, os sumérios destacaram-se nos trabalhos em metal, na lapidação de pedras preciosas e na escultura. 


Foi, porém, no campo científico que os mesopotâmicos alcançaram maior destaque. Através da observação do céu, visando decifrar a vontade dos deuses, os sacerdotes acumularam informações a partir das quais foi elaborado, pouco a pouco, um conhecimento exato dos fenômenos celestes. 


Legado Cultural da Mesopotâmia: 


· Divisão do ano de 12 meses e a semana de 7 dias; · A divisão do dia em 24 horas; · A crença nos horóscopos e os doze signos do zodíaco; · O hábito de fazer plantio de acordo com as fases da Lua; · O círculo de 360 graus; · O processo aritmético da multiplicação; · O cálculo das quatro operações aritméticas; · A extração de raiz quadrada; · A álgebra; · O sistema de numeração sexagesimal, que dividiu a circunferência em 360º e à hora em 60 minutos; · A distinção entre planetas e estrelas; · A arte de prever eclipses; · O primeiro conjunto de leis escritas, o Código de Hamurabi, feito pelos babilônios no século XVIII a. C.


 No campo literário, o destaque fica para duas obras sumerianas: o Mito da Criação, que resgata a origem do mundo através do mito de Marduk, e a Epopeia de Gilgamesh, que conta a lenda do Dilúvio. Destaca-se também, como grande marco da história do Direito, o Código de Hamurabi. A descoberta suméria da escrita foi enriquecida com a produção de textos religiosos, históricos e lendas. 


 A escrita cuneiforme, criada pelos sumérios, foi utilizada pelos vários povos mesopotâmicos e adotada por outros povos da Ásia Ocidental. Foi decifrada pelos estudiosos Grotefend e Rawlinson. 


Em linhas gerais, podemos dizer que a forma de produção dominante na Mesopotâmia foi a Asiática, não existindo, portanto a propriedade privada da terra. Os indivíduos só usufruíam da terra enquanto membros da comunidade. O rei, encarnação do Estado, era o proprietário nominal de todas as terras, o qual dirigia a construção de canais de irrigação que propiciavam as condições para o desenvolvimento da agricultura. 


No plano sociopolítico, esta forma de produção caracterizou-se pelos impérios teocráticos de regadio, organização estatal altamente centralizada. O poder estatal unificou em suas mãos os poderes político, militar, religioso e econômico. A rígida centralização do poder era necessária para o desenvolvimento da agricultura de regadio, através da organização do trabalho nas grandes obras públicas. 


A civilização mesopotâmica exerceu grande influência sobre os povos vizinhos, como os persas – que adotaram a escrita cuneiforme – e os hebreus – que aproveitaram algumas de suas tradições religiosas, como o mito do dilúvio. 




 Bibliografia consultada: 
FERREIRA, Olavo Leonel. Mesopotâmia: o amanhecer da civilização, São Paulo: Ed. Moderna, 3ª edição, 1993. 
LÉVÊQUE, Pierre. As Primeiras Civilizações, Vol. II: Mesopotâmia e hititas. Tradução de Antonio José P. Ribeiro. Rio de Janeiro: Edições 70, 1987.
 
CARDOSO, Ciro Flamarion. Sete Olhares sobre a Antiguidade. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1994.
 
CROUZET, Maurice (org.) O Oriente e a Grécia Antiga. Tradução de Pedro M. Campos. (Coleção História Geral das Civilizações). Rio Janeiro: ED. Bertrand Brasil SA, 1993
 
fonte: http://www.historiamais.com/mesopotamia.htm

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